30.6.06

Fala Nélida

Image Hosted by ImageShack.us


A arrogância do inaugural é mais danosa para a juventude do que o desinteresse em ler?

Nélida: Nós estamos vivendo mudanças dramáticas na história. Até que ponto a juventude está afetada por um desalento que é grande e justificável? Afinal, vão respeitar a quem? A esses políticos incompetentes, que parecem todos iguais? Vivemos a falta utopia, de sentimento utópico, a falta de fantasiar a realidade que não seja por meio da droga. Fantasiar é lidar com os recursos humanos, fazer com que eles se expandam. É ficar dentro do círculo humano e não alienar-se do humano, como se faz com as drogas. Há hoje uma noção da falsa prosperidade, do falso modismo, que não atinge só o jovem, mas a todos. Os nossos valores estão abalados. O humanismo está recebendo chicotadas. Corremos o risco de reproduzir certos países em que é comum evitar-se qualquer laço afetivo com o colega de trabalho porque você sabe que vai ter de inevitavelmente atropelá-lo. Os EUA, por exemplo, são uma sociedade erguida sob valores anti-humanitários. Vivemos hoje a valorização do banal, o ataque ao pensamento, à reflexão, à boa angústia, que todo mundo tem de ter. Que falsa euforia é essa em que ninguém tem responsabilidade com a sua própria história individual? Você anda pelo mundo como se não fosse adequado refletir sobre a condição humana. Mas é preciso refletir, ter densidade, angústia, que é o ato de sonhar e de conhecer a ascensão e a queda.
.
(Parte da entrevista com Nélida Piñon na Revista Língua Portuguesa)

Retirado do blog Na Dança das Palavras , de Leonor Cordeiro.

Mudança a todo vapor. Obrigada, Leonor. Bjos.

Nenhum comentário: