3.9.05

Relicário

Cupido


O amor e a razão*

"Pinta-se o amor sempre menino, porque ainda que passe dos sete anos [...], nunca chega à idade de uso da razão. Usar de razão e amar são duas coisas que não se juntam. A alma de um menino que vem a ser? Uma vontade com afetos e um entendimento sem uso. Tal é o amor vulgar. Tudo conquista o amor, quando conquista uma alma; porém o primeiro rendido é o entendimento. Ninguém teve a vontade febricitante, que não tivesse entendimento frenético. O amor deixará de variar se for firme, mas não deixará de tresvarias, se é amor. Nunca o fogo abrasou a vontade, que o fumo não cegasse o entendimento. Nunca houve enfermidade no coração, que não houvesse fraqueza no juízo".

Pe. Vieira, Sermão do Mandato, In Sermões. Rio de Janeiro, Agir, 1957.

* Nascido em Portugal no ano de 1608, o Padre Antonio Vieira é um dos personagens mais importantes da história luso-brasileira. Ao longo de seus 89 anos, Vieira foi padre, intelectual, catequisador, político, orador e escritor, destacando-se em todas essas atividades.
Conviveu com reis, índios, escravos, padres e senhores numa época marcada pela intolerância religiosa e pela violência. Condenado pelos tribunais da Santa Inquisição, que tanto combatia, o Padre Vieira amargou dois anos numa masmorra em Coimbra.

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