22.11.05

La Prensa

Por Marcos Pontes*

Não há como se contestar, por mais tapado que o sujeito seja, da importância
da imprensa na vida de cada um, mesmo na dos índios isolados da Amazônia que
sequer viram um jornal ou um pedaço de revista. Que fique claro que são
pouquíssimos os índios da Amazônia que ainda não passaram por essa
experiência.

É a imprensa que nos avisa das catástrofes ou divulgam a tal moda, que nada
mais é do que um cartel das grandes fábricas e grifes do mundo para nos
dizer se somos moderninhos ou cafonas. A imprensa nos prepara os bolsos para
o aumento do combustível ou para comermos feijão todos os dias com a
supersafra do ano. É ela quem nos informa se nosso candidato a prefeito é o
que pensamos que seja ou mais um engodo.

A descoberta de Gutemberg foi tão importante quanto a da máquina a vapor.
Ambas fizeram o mundo dar uma guinada, embora a de Gutemberg tenha sido
negada a muita gente que já sabia que quem detém o conhecimento tem o poder.
Já a máquina a vapor precisava de braços fortes, de preferência com mentes
fracas, para ajudar a enriquecer aqueles que tinham o conhecimento.

Foi a imprensa o catalisador da primeira grande cisma da Igreja Católica
Apóstólica Romana, quando um padre rebelde resolveu traduzir a Bíblia para o
alemão, sua língua natal, permitindo que qualquer cidadão minimamente
letrado tivesse o conhecimento que somente os clérigos, conhecedores do
latim, tinham até então. Aproveitando a deixa, o padre que de bobo não tinha
nada, retirou cinco livros que não lhe interessavam, coisa que, aliás, a
própria Igreja Católica já havia feito antes.

O The New York Times foi o responsável pela queda de Richard Nixon, quando
revelou as tramas do caso Watergate.

No Brasil a imprensa, usando qualquer que seja a média (prefiro a grafia
portuguesa, média, mas pretendo me fazer entender) também faz suas
estrepolias, para o bem ou para o mal. Jornais cometeram o crime bárbaro
contra a Escola Base, em São Paulo, ao acusarem seus donos de maltratarem as
crianças que ali estudavam. Mesmo depois dos fatos esclarecidos, a família
dos proprietários nunca foi devidamente ressarcida dos danos que lhes
foram causados e hoje vivem de uma pequena empresa de fotocopiadoras. O que
será que aconteceu com os professores? Será que conseguem emprego depois de
apresentarem suas referências profissionais a um potencial empregador?

As revistas e televisões elegeram políticos para os mais diversos cargos em
nosso país e, muitas vezes, depois de verem seus interesses contrariados,
fazem campanhas para destruírem aqueles que antes eram seus prediletos. Isso
causa enormes discussões na classe. No caso específico de Collor, muito se
fala da influência ou não da Rede Globo na sua eleição. Não se comenta,
porém, da enorme responsabilidade não só da Rede Globo, mas de diversos
outros órgãos, na destituição do então presidente. Mas os acadêmicos não
sabem tudo e os corporativistas não dariam o braço a torcer facilmente. O
povo, o cidadão comum, esse, sim, sabe se foi influenciado ou não, vou
dirigido ou não como vaquinhas no corredor do curral para tomar sua vacina
contra aftosa.

Mesmo gente culta, leitores contumazes, ainda se deixam convencer facilmente
por tudo o que lê. São pessoas que acham que se está escrito em letra de
forma e em grande circulação, é verdade. A falta de questionamento é
premente e grave. Dá trabalho pensar, analisar sob diversas ópticas,
duvidar. As novelas nos ensinaram a aceitarmos calados e esperarmos o
capítulo de amanhã, quando toda a verdade será revelada. Mas não existe A
verdade, ela é condicionada, direcionada, por quem tem a tinta, as câmaras e
os microfones, e engolidas sem mastigar por quem tem cérebro apenas para
distingüir a porta da janela.

Uma mesma notícia é divulgada de maneiras totalmente diferentes de um
veículo para outro. Para se manter realmente informado é necessário que o
consumidor tenha olhos de peneira e miolos insatisfeitos.

* Marcos Pontes é cronista, poeta, leciona matemática e escreve diariamente no blog Esculacho e Simpatia, ou seja ele esculacha sim, mas sempre com muita simpatia. O homem perfeito.

E ainda é meu amigo!
Beijo a todos ;-D

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