27.8.05

De caso com a poesia

Jorge e Zélia


Testamento (Jorge Amado 1912-2001)*

Dá-me tua mão de conivência, vamos viver o tempo que nos resta, tão curta a vida!, na medida de nosso desejo, no íntimo de nosso gosto simples, longe das galas, em liberdade e alegria, não somos pavões da opulência nem gênios de ocasião, feitos nas coxas das apologias, somos apenas tu e eu. Sento-me contigo no banco de azulejos à sombra da mangueira, esperando a noite chegar para cobrir de estrelas teu cabelo, Zélia de Euá envolta em lua: dá-me tua mão, sorri teu sorriso, me rejubilo no teu beijo, laurel e recompensa.
Aqui nesse recanto de jardim, quero repousar em paz quando chegar a hora, eis meu testamento.

Navegação de Cabotagem,1992

Talvez seja uma das coisas mais belas que já li.

Nenhum comentário: