16.1.06

Por que uma empresa é odiada?

Os americanos adoram vencedores. Quase todas as revistas de negócios e publicações setoriais compilam suas listas anuais classificando as companhias como melhores e maiores. Mas o que acontece no outro extremo? Quais são as mais detestadas? Por quê?

Ninguém reivindica o título, mas algumas devem merecê-lo.

A pesquisa foi feita a partir de um ensaio não-científico histórico baseada numa busca em bancos de dados, num passeio em blogs e nas conversas com professores de escolas de administração e negócios.

Século XVIII

First Bank of the United States, fundado em 1791 – desempenhava o papel de um banco central, apesar de investidores privados controlarem a maior parte de suas ações, foi denunciado como sendo representante de uma vitória não-constitucional do comércio sobre a agricultura.

First Bank of the United States refundado em 1816 como Second Bank of the United States - emprestou dinheiro desenfreadamente,e de repente quis seu dinheiro de volta, o que deflagrou uma onda de pânico financeiro. O presidente Andrew Jackson pôs fim a seu status especial em 1836. Cinco anos mais tarde, na forma de um banco comercial comum, o Second Bank faliu. Essa catástrofe nunca se repetiu.

Século XIX

Standard Oil - embora não fosse, a pior, um monopólio fundado por John D. Rockefeller na década de 1870, desmembrada pela Justiça em 1911. A empresa foi o "primeiro e permanente alvo campeão da ira pública", diz George David Smith, professor da Stern School of Business, na Universidade de Nova York. O império de Rockefeller tornou-se "um símbolo de tudo o que os americanos temiam: a concentração de poder".

National City Bank e seu presidente, Charles Mitchell – Embora a repercussão do "crash" de 1929 em Wall Street tenha causado choque e sofrimento, nenhuma companhia pôde ser responsabilizada por ele, mas o banco foi considerado culpado por inflar o mercado e responsabilizado pelo rastro de depressão nos anos 30.

Século XX

Dow Chemical - fabricante do napalm e do agente laranja. Nas décadas de 80 e 90, os implantes de silicone para seios que a Dow produziu em associação com a Corning, uma companhia do setor vidreiro, provocaram uma onda de pânico sobre infundados riscos à saúde e ações coletivas que custaram até US$ 3,2 bilhões. Em 2001, a Dow Chemical foi responsabilizada por um vazamento em uma de suas usinas na Índia como o maior desastre industrial nos tempos modernos.

Companhias de cigarros - Entre as décadas de 60 e 90, a opinião pública americana desenvolveu uma síndrome de rejeição contra todo um setor da economia: as grandes empresas no setor do tabaco. Muito justo, diriam muitos. "Se você está matando gente, não importa se está criando valor para seus acionistas; independentemente disso, você estará agindo de modo imoral", comenta Mason Carpenter, professor da Madison School of Business, da Universidade de Wisconsin.

Microsoft - O fato de ser citada como a companhia mais odiada se deveu mais à qualidade do que à quantidade de seus críticos. Nunca uma companhia foi tão insultada Digite "hate Bill Gates" no Google e verá mais de 15 mil achados. Digite "love Bill Gates" e você poderá encontrar 2 mil instâncias.
A companhia piorou as coisas ao manejar sua força bruta, tentando conquistar qualquer outro mercado potencialmente lucrativo de software ou na internet. Mas o veredito da história será benévolo. Ao popularizar e padronizar a computação pessoal, a Microsoft estabeleceu os fundamentos de uma revolução industrial e tecnológica muito grande para ser controlada por uma só companhia. A maioria dos americanos aplaudiu o feito, mesmo enquanto o governo federal tentava desmembrar a Microsoft.

Enron – levou o título de mais odiada, pediu concordata em 2001 depois de ter inflado seu balanço patrimonial com ativos escusos - mediante arranjos financeiros que ninguém fora do conselho de administração conseguia compreender exatamente de que se tratavam, exceto que dizia respeito ao uso indevido do dinheiro dos acionistas. "Basicamente, bandidos", diz Carpenter."Um autêntico emblema de corrupção empresarial. E seu nome continuará associado a essa imagem por outros cem anos", segundo Smith, da Stern.

WorldCom - empresa do setor de telecomunicações que combinou os piores traços do boom no setor das empresas de internet com os de um escândalo contábil nos moldes do criado pela Enron. Depois de se declarar insolvente, a Worldcom renasceu como MCI e foi depois adquirida em 2005 pela Verizon, outra grande companhia de telecomunicações. Seu antigo executivo-chefe Bernie Ebbers foi condenado a 25 anos de cadeia.

Wal-Mart - Uma pesquisa feita na Terry College of Business, da Universidade da Georgia, com cerca de cem alunos do curso de economia, revelou a companhia mais odiada dos EUA atualmente. Quase todos disseram: Wal-Mart.

Nos últimos três anos, a companhia suportou picos de hostilidade pública provocados por sindicatos de trabalhadores envolvendo acusações de que a emprega imigrantes ilegais como pessoal de limpeza, pagando-os tão pouco que eles dependem de benefícios previdenciários e remunerando abaixo do mercado suas funcionárias. Tendo inicialmente tentado intimidar seus críticos, no ano passado a Wal-Mart decidiu contratar uma equipe de alto nível de lobistas e consultores, inclusive ex-assessores de Ronald Reagan e de Bill Clinton, para administrar mais ativamente sua imagem e interesses.

Tal como a Microsoft, a Wal-Mart é amada pelo menos tanto quanto é odiada. Podemos odiar seu poder de mercado e ao mesmo tempo adorar seus preços baixos. "O que eles fazem, fazem muito bem", diz Kirsch, professor da Terry College of Business, "e eles dividem os benefícios. Se eles puderem obter algo 10% mais barato, então 5% vão para os acionistas e 5% para os clientes. É simples assim. Mas isso nos leva de volta ao problema inerente de tamanho. Grandes presenças em cidades pequenas. Quando você fica muito grande, tende a fazer coisas que deixam as pessoas enfurecidas."

Fonte: Valor Economico



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